Dificuldades ou Distúrbios de Aprendizagem?
Como saber? O que fazer? O artigo da psicóloga Cintia Baraúna fala sobre o que é aprendizagem e os motivos para uma criança apresentar dificuldades
Com a entrada da criança na escola as cobranças e exigências começam a ser outras das exigidas em casa ou nos relacionamentos sociais, como festinhas e parquinhos. A escola passa a ser o local onde a criança precisa ter certas habilidades para poder se desenvolver no processo de ensino-aprendizagem.
O que é aprendizagem?
“Aprender é um processo de êxito crescente num meio determinado. Ou seja, é um processo em andamento que só se encerra quando a pessoa “sabe”.
“Quando você sabe, já aprendeu. Se está aprendendo, está construindo seu saber. Como uma pessoa nunca sabe tudo que precisa saber para viver, a aprendizagem é permanente: é o próprio processo de viver”.
“Ninguém é tão pequeno que não possa ensinar, nem tão grande que não possa aprender”.
O processo da aprendizagem é permanente e contínuo, o ser humano está aprendendo o tempo todo.
Podemos então chegar à seguinte conclusão de que todas as crianças podem aprender cada uma no seu tempo sendo que algumas irão precisar de estratégias diferenciadas. Então, por que algumas crianças não aprendem?
Para que ocorra a aprendizagem são necessárias algumas condições básicas como: Saúde física e mental, motivação, maturação, inteligência, concentração, atenção e memória.
Quais as causas para uma criança apresentar dificuldades na aprendizagem escolar? As causas podem ser diversas como:
Causas físicas (Dores de um modo geral, doenças alérgicas, doenças infantis, desnutrição e perturbações permanentes como: Deficiência Orgânica, ausência de um órgão ou membro, paralisia nos membros, malformação congênita ou hereditária).
Causas Sensoriais (Visuais ou Auditivas)
Causas Neurológicas (lesão Cerebral ou disfunção - dislexia, disortografia, disgrafia, discauculia; - Distúrbio de Motricidade –Transtorno de Déficit de Atenção –Hiperatividade; Inabilidade do Processamento Auditivo ou Visual).
Causas Emocionais (Fracasso escolar, Obesidade, Enurese, Tiques, Gagueira, Ansiedade, Medos e Fobias - Distúrbios Comportamentais).
Causas Cognitivas (Perturbações ou Distúrbios Intelectuais, Inteligência Muito Superior ou Médio Inferior);
Causas educacionais (Influencia familiar - Ambiente físico e social do lar; Nível cultural e educacional familiar; Influencia do meio escolar - Ambiente físico e social da escola; O professor seu planejamento currículo e métodos; Interação professor – aluno); Alunos x Família x Escola);
Como saber se uma criança tem um Distúrbio de Aprendizagem?
Desde os primeiros anos de vida já se pode notar em algumas crianças a dificuldade na comunicação oral e no seu desenvolvimento, contudo, é na escola que as dificuldades mais aparecem. Onde a leitura e a escrita são permanentemente utilizadas, valorizadas e avaliadas.
Os Transtornos da Aprendizagem compreendem uma inabilidade específica, na leitura, na escrita ou na matemática, em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para o seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual.
Segundo o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os Transtornos de Aprendizagem são: Transtorno de leitura (Dislexia), Transtorno de Expressão Escrita ou Disortografia, Transtorno de Matemática ou Discauculia.
Os pais e educadores podem identificar alguns sinais como:
- Atraso no desenvolvimento da linguagem falada, caracterizado pelo aparecimento das primeiras palavras mais tarde do que o esperado;
- Desatenção e presença de uma agitação motora acentuada;
- Dificuldade na leitura oral;
- Dificuldade na orientação direita e esquerda;
- Dificuldade na orientação espacial e temporal;
- Lentidão na execução de tarefas;
- Dificuldade em copiar da lousa;
- Caligrafia ruim;
- Dificuldades para organizar idéias e poder fazer relatos, dar explicações, contar fatos. Os relatos podem parecer confusos, com falta de coerência.
No caso de crianças inteligentes, saudáveis, mas com dificuldade de ler e entender deve-se investigar a existência de casos de dislexia na família. A história pessoal de um disléxico, geralmente traz traços comuns como atraso na aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância lateral.
É de suma importância a avaliação com equipe multidisciplinar que envolva vários profissionais como: Psicólogo, Psicopedagogo, Pedagogo, Fonoaudiólogo, Neuropediatra e se necessário, outros profissionais serão envolvidos, para que se possa diagnosticar realmente a existência de um Distúrbio de Aprendizagem.
Quanto mais cedo se realizar o diagnosticado, melhor o prognóstico, ou seja, melhor o resultado.
O tratamento consiste em:
- melhorar a auto-estima da criança através da busca de desenvolvimento de novas estratégias para o aprendizado.
- Orientar a escola a desenvolver atividades específicas para este aluno, sem isolá-lo do resto da turma, possibilitando que o mesmo use equipamentos de apoio;
- Acompanhamento fonoaudiológico, psicopedagógico e muitas vezes psicológico; o que possibilitará à criança e/ou adolescente a caminhar com mais segurança aprendendo a lidar com suas dificuldades, utilizando estratégias diferenciadas.
É importante mencionar o Transtorno de Déficit de Atenção-Hiperatividade (TDA-H), embora não seja um Transtorno de Aprendizagem, o mesmo acarreta prejuízos significativos na aprendizagem escolar, uma vez que para aprender é necessário atenção, organização e planejamento, ou seja, é preciso se utilizar das funções executivas, as quais ficam comprometidas havendo este Transtorno.
O TDA-H é um transtorno neurobiológico, de origem genética de longa duração, persistindo por toda a vida da pessoa. Tendo início na infância, comprometendo o funcionamento do indivíduo em vários setores de sua vida, se caracteriza por três Grupos de alterações: Hiperatividade, Impulsividade e Desatenção.
Os sintomas do TDA-H podem trazer alguns comprometimentos como:
1. Dificuldades no rendimento escolar são umas das primeiras conseqüências desse transtorno. Esse transtorno é considerado a principal causa do fracasso nos estudos.
2. Dificuldades de relacionamento social são freqüentes.
3. Em função de experiências negativas vividas apresentam baixa auto-estima.
4. Segundo estatísticas são pessoas mais propensas a vários tipos de acidentes.
5. Apresentam maior risco em lidar com regras e normas e baixa tolerância à frustração, tendo dificuldade em aceitar um não.
6. Dificuldade na função executiva-(no controle dos impulsos, concentração, memória, organização, planejamento e autonomia).
O diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar (psicólogo, psicopedagogo, fonoaudióloga, neuropediatra ou psiquiatra). Na maioria das vezes a criança é medicada, mas a terapia psicológica é que irá auxiliá-la a lidar com as dificuldades do quadro no seu dia a dia.
A escola e os pais devem receber orientações de como lidar com a criança podendo dar um suporte nos momentos mais difíceis utilizando algumas estratégias que a faça se sentir mais segura e mais aceita.
Na hora da escolha da escola os pais de crianças com dificuldades de aprendizagem devem procurar uma escola que esteja aberta a auxiliar seu filho a se desenvolver dentro do seu tempo respeitando e buscando novas estratégias para ajudá-lo.
Autor: Cintia Grecco da Silveira Baraúna é psicóloga com abordagem cognitivo-comportamental, com especialização em Distúrbios de Aprendizagem e Psicopedagogia. Atende no Atelier da Granja onde trabalha com equipe multidisciplinar na avaliação e tratamento dos Distúrbios de Aprendizagem, Transtorno de Déficit de Atenção – Hiperatividade (TDA-H) e outros transtornos. www.atelierdagranja.com.br
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